Os apóstolos estão no sinédrio para serem julgados e
condenados à morte. No meio das discussões surge uma voz sensata, de um mestre
da Lei fariseu chamado Gamaliel, que resgatando fatos da história recente,
intercede em favor dos apóstolos, afirmando que se a obra deles for humana, por
si só acabará, mas se for de Deus, permanecerá (cf. At 5,34-42).
Pois bem, Gamaliel raciocina como um homem de fé, os
perseguidores dos apóstolos raciocinam como homens do poder, afinal a mensagem
deles meche com a sua posição e ameaçam a soberania que os mesmos têm sobre o
povo. Estão mais interessados no seu, do que analisar a situação em questão
como uma iniciativa da Providência Divina.
A fala de Gamaliel vai às raízes das relações entre Sinagoga
e a Comunidade dos seguidores de Jesus Cristo que está nascendo e ganhando
força, a Igreja. Ele parte de um principio que está presente na História do
Povo de Deus, que prevê o combate contra todo desvio da verdadeira fé no Deus
de Israel, mas que também indica que deve se reconhecer a ação livre e gratuita
de Deus, que é livre para escolher, tomar novas iniciativas, inclusive de
formar um novo povo a partir da Paixão, Morte e Ressurreição de seu Filho. Este
novo povo é a Igreja.
A sugestão de Gamaliel é que se faça um discernimento da
situação, e para isso é necessário dar “tempo”, ou seja, deixar que o tempo se
encarre e verfique se aquela obra é de Deus ou não, se for, resistirá, se não
for perecerá. Esta leitura deve ser feita com humildade e se deve estar aberto
para acolher nos sinais a vontade de Deus.
Mesmo sendo um fariseu, Gamaliel no Sinédrio, dá o ultimo
critério de reconhecimento e autenticidade da vida e atividade da Igreja. Se a
Igreja nasce de um esforço humano que prevê libertação e revolução, da mesma
forma como nasceu ela morrerá. Porém, sabemos que neste novo povo que nasce e
se chama pelo nome de Igreja, em seu corajoso testemunho é Deus que opera a
salvação do povo através de suas testemunhas. Se Deus está com a Igreja, é
inútil combatê-la. Se Deus é por nós, quem será contra nós? Lutar contra a
Igreja é lutar contra Deus.
Vemos ao longo da História provas desta verdade, pois a
Igreja de Jesus Cristo, da qual nós fazemos parte, permaneceu de pé e continua
de pé por quase 2000 anos. E a razão disto é que Deus está a frente de seu
povo, o conduz e também está com ele e no meio dele. Claro que a colaboração do
homem é indispensável para que este projeto de salvação aconteça, porém, a
iniciativa e o poder vem sempre de Deus.
Deus esta presente na Igreja?
Sim. Na Pessoa do seu Filho Jesus, que igualmente é Deus e
se faz presente de modo eficaz na Comunidade que se reúne em seu nome, na
Palavra, na pessoa do sacerdote e sobretudo na Eucaristia.
Sobre a presença de Jesus na Eucaristia, o Evangelho que
hoje ouvimos que nos relata a multiplicação dos pães (cf. Jo 6,1-15) nos ajuda
a aprofundar essa certeza. João situa este acontecimento, juntamente com a
narração de que Jesus caminha sobre as águas como introdução ao grande discurso
do Pão da vida, no qual Ele afirma que sua carne é verdadeira comida e seu
sangue verdadeira bebida.
Existe uma multidão que está seguindo Jesus, que o acompanha
porque vê os sinais que ele opera: curas físicas, libertações de endemoniados,
mortos que ressuscitam, sinais e prodígios que se dão das mais diversas formas.
É a esta multidão que Jesus falará e num tom que cobra uma posição: para
continuar ser seu discípulo não basta crer nos sinais que Ele realiza é preciso
aceitar que Ele pode doar seu Corpo e Sangue em alimento e bebida e esta realidade
se concretizará na Eucaristia celebrada pela sua Igreja.
Jesus no milagre da multiplicação dos pães sacia os homens
que tinham fome, e partindo de uma realidade terrena, de dons terrenos, o pão e
o peixe, ele começa a revelar-se a si mesmo, o seu ministério e a sua missão
numa profundidade que a mente humana é incapaz de provar ou de comprovar. O pão
que ele dá, que ele multiplica é sinal de um outro pão que será seu Corpo
entregue por nós na Cruz e entregue a nós como alimento.
O milagre em questão ainda aponta outra realidade: não é
possível revelar um pão de vida eterna, sem cobrar o empenho de que se leve a
sério as exigências da solidariedade humana. O gesto de Jesus leva a partilha e
nos faz entender que Eucaristia é partilha e que ela deve continuar no nosso
dia a dia, pois ela nos chama a nos comprometer com a partilha do que temos com
o que pouco ou nada tem.
A Eucaristia distribui em abundância o pão da
vida, como revelação da pessoa de Cristo, é sinal e certeza da sua Presença no
meio de nós. É a prova da qual Gamaliel falava no seu discurso diante das
acusações que faziam aos apóstolos, sem mesmo saber. O que atesta que a Igreja
é obra de Deus, não é só fato dele estar junto do seu povo, mas a certeza de
que Ele está no meio do seu povo no Sacramento do Corpo e do Sangue do
Salvador, a Eucaristia.
Pe. Rodolfo Marinho de Sousa
Memória de Santo Atanásio - Sexta Feira da 2a. Semana da Páscoa
Grupo de Oração Shekinah.
Confira algumas fotos da Santa Missa no Grupo de Oração:
Fotos: Amanda Montalvão
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