A Quinta feira Santa é um dia
de alegria, amor e gratidão, pois recorda o exemplo de Jesus que quis lavar os
pés de seus discípulos, dando-nos o testemunho de serviço e humildade.
Recorda-se principalmente a
Celebração da Ceia do Senhor, na qual Ele se dá no Pão e no Vinho em Comida e
Bebida por meio de Seu Corpo e Sangue transubstanciados na Consagração
Eucarística. Jesus se torna para nós Pão da Vida!
Foi nesta ceia de despedida que
Ele nos deixou o Sacerdócio Ministerial, para a perpetuação de seu Corpo e
Sangue no meio de nós como presença de compromisso, partilha e missão.
Entre os acontecimentos que se sucederam nos
últimos momentos de Jesus Cristo entre os seus, está a Instituição da
Eucaristia. Daí decorre a instituição do sacerdócio ministerial e o sinal de
serviço marcado pelo amor que é verdadeira entrega. É neste contexto que se
situa o LAVA PÉS.
O evangelista João é o único a
colocar dentro do contexto da Última Ceia de Jesus com os seus discípulos este
episódio em que Jesus
se levanta da mesa, depõe o manto, cinge-se com uma toalha e começa a lavar os
pés dos discípulos.
É muito interessante podermos
citar o texto por completo (João 13,1-20) para que o leitor possa perscrutá-lo
na Sagrada Escritura, para um entendimento verdadeiro do que Jesus estava
fazendo. Vejamos alguns pontos fundamentais:
“Antes da festa da Páscoa,
sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo
amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Durante a ceia, quando
já o diabo pusera no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de
entregá-lo, sabendo que o Pai tudo pusera em suas mãos e que ele viera de Deus
e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha,
cinge-se com ela. Depois põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos
discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido” (João 13,1-5).
Este gesto não foi criado por
Jesus Cristo, e, portanto não era desconhecido pelos seus discípulos. Isso se
fazia no Oriente todas as vezes que se entrava em casa vindo de uma caminhada
nas estradas, pois, ou se andava com os pés descalços ou revestidos apenas com
um tipo de sandália. E, portanto não era diferente com Jesus e os seus
discípulos nas estradas poeirentas de toda a Galiléia e região.
Então porque Pedro se recusa,
de uma forma tão decidida, a deixar-se lavar por Jesus? “Senhor, tu,
lavar-me os pés?... Jamais me lavarás os pés!” (João 13,6ss). Pedro sabia
muito bem que quem fazia este serviço na casa era o servo, ou o escravo e às
vezes a mulher do chefe da casa. Este, porém era considerado o serviço mais
humilde do escravo e do servo, e isso ele nunca iria aceitar do seu “Mestre
e Senhor”.
Jesus aceita ser chamado de
Mestre e Senhor e confirma que o é, mas demonstra que este seu gesto não será
apenas um sinal de limpeza, purificação ou de acolhida do hóspede que chega.
Esta sua atitude manifesta a superação de todo este sentido antigo para
expressar, antes de mais nada, a confirmação do seu amor e as suas
conseqüências “...tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o
fim”, e, em seguida, para determinar o caminho pelo qual também deverá
passar todo aquele que quer ser seu discípulo “...também deveis lavar-vos os
pés uns aos outros... dei-vos o exemplo para que , como eu vos fiz, também vós
o façais”, palavra que Ele havia dito aos discípulos e que agora tornava
visível na sua própria vida através desta atitude “...aquele que quiser ser
o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio
para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
Estamos, portanto diante de uma
atitude de Jesus que nos leva a olhar para os diversos aspectos daquele
acontecimento, daquela Ceia que era a última, antes de “passar ao Pai”.
O primeiro aspecto deste ato
foi o despojar-se de Jesus, da sua dignidade de Mestre diante dos discípulos “...
depõe o manto... cinge-se com uma toalha, toma uma bacia com água” como
fazia o escravo, realizando aquilo que Paulo depois na carta aos Filipenses vai
narrar “... mas se despojou, tomando a forma de escravo” (Filipenses 2,7).
O seu serviço humilde e
despojado se realiza até as últimas conseqüências e se manifesta numa entrega
profunda de toda a sua vida.
Este é o ponto central da
liturgia da Quinta-feira Santa que se realiza na Eucaristia, ou seja, a entrega
de Jesus por nós e o convite a que, a partir deste momento, também a nossa vida
seja uma entrega ao irmão para realizar a verdadeira comunhão, a “koinonia”,
sinal de uma verdadeira comunidade eucarística. Um outro aceno deste gesto do “Lava-pés”
é a lembrança do nosso batismo que nos leva ao significado mais profundo da
entrega na cruz.
A água
que nos purifica e regenera, nos leva a partilhar com Cristo da vida nova, do
homem transfigurado que se reveste da glória de Deus, o Homem novo que sai
vitorioso da submissão e do sofrimento misterioso da cruz. A liturgia de
Quinta-feira Santa à noite abre para nós o Tríduo Pascal, onde viveremos todo o
mistério pascal tendo como centro a Vigília Pascal, que é a mãe de todas as
vigílias celebradas pela Igreja. Hoje é urgente que este gesto de Jesus
aconteça entre nós como um verdadeiro “sacramento de serviço e fraternidade”.
Texto retirado do Ritual para a Semana Santa.
Fotos da Missa no Setor 1:
Fotos da Missa no Setor 2:
Fotos: Equipe Pascom
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